Sunday, August 27, 2006


No limite das ruas

A vida de famílias de sem-teto, do centro da capital paulista, inspira fotógrafo a captar imagens do cotidiano de pessoas no limite das ruas e também fora delas, em uma entidade destinada à reabilitação de moradores de rua.

O tema do trabalho do fotógrafo paulistano Glauco Rossini, 30 anos, partiu do clique inicial apontado há pouco mais de um ano, para os moradores de rua do centro de São Paulo - região da Conselheiro Crispiniano e da Praça da República - e como contraponto ao cenário registrado nas calçadas e pontes da cidade, gerou vários outros disparos, só que desta vez longe das ruas. Sensibilizado pela experiência de fotografar e conviver, mesmo que por pouco tempo, com os sem-teto, ele sentiu necessidade de retratar o outro lado da questão social que envolve esta população. Assim, buscou registar a vida delas numa entidade ligada à Igreja Evangélica, criada há seis anos com o objetivo de dar assistência aos moradores de rua. O projeto fotográfico é um só, mas pode ser dividido em duas partes: a vida nas ruas e fora delas também. O fotógrafo ficou conhecendo o Camor (Centro de Assistência aos Moradores de Rua) – também chamado de projeto Moradores de Rua - pela internet. Depois de vários contatos pessoais, finalmente pôde captar imagens espontâneas de quem não habita mais as ruas de São Paulo, mas a entidade localizada na Ponte Aricanduva, Parque Novo Mundo, na Zona Norte de São Paulo. “Tentei explicar meu projeto em várias outras instituições. Mas só obtive uma abertura maior no Camor”, conta ele. Com fotos em P&B, geradas a partir de uma Pentax modelo K1000 e de uma Nikon FM2, Rossini revela, por um lado, a condição de miséria e pobreza de crianças, jovens, adultos e, especialmente, idosos. Por outro, no entanto, registra a volta por cima de muita gente que passou pelas ruas e que hoje consegue sobreviver de maneira mais digna. “Ouvi muitas histórias tristes, tanto nas ruas quanto na entidade, mas que felizmente tiveram um final feliz. Como por exemplo, gente que não tinha um ofício e agora pode se dedicar a uma profissão”, lembra. Para o fotógrafo, mais do que expor ao público a condição de vida dos sem-teto, o importante é conscientizá-lo, para quem sabe, no futuro, mudar sua visão a respeito deste problema social tão comum nos grandes centros urbanos. “A intenção é mostrar que há uma luz no final do túnel”, diz. Ex-estudante de Direito, ele conta que sempre se interessou por questões sociais. “E escolhi a fotografia para tentar conscientizar as pessoas de fatos que muitos não querem encarar”, destaca. Parte do trabalho de Rossini, que fotografa profissionalmente há seis anos, já foi apresentado na exposição fotográfica Humano Cotidiano nas Ruas de São Paulo, realizada no ano passado, no Espaço Cultural Consigo, localizado na mesma Rua Conselheiro Crispiniano, onde ele deu o pontapé inicial para alimentar seu projeto. “O próximo passo é despertar o interesse de patrocinadores e publicar um livro sobre o tema”, lembra ele.


Lilian Rossetti

[Matéria publicada em Photo&Imagens 40 - Junho de 2004]

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